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Foto do escritorMarcio Funchal

Onde se dá a Produção Rural no Brasil

Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Setembro de 2022.


Que o Brasil é uma potência mundial na produção rural, não se discute: os números falam por si só. O país é referência na produção de alimentos em diversas cadeias produtivas, seja em produção de proteína vegetal como animal. Ademais, o Brasil também é referência na produção de florestas comerciais, tornando assim sua indústria bastante competitiva, uma vez que torna sua matriz de abastecimento sustentável no horizonte de curto e longo prazos.


Mas com este bom desempenho da produção rural, é natural que a expansão da produção rural ocorra nos dois vetores clássicos: aumento da área de produção e aumento da produtividade. O aumento da produtividade é uma melhoria sistêmica, contínua e de longo prazo. Assim, é esperado que aumentos rápidos de produção ocorram via expansão da área de produção.


Dessa forma, as propriedades rurais vão se transformando ao longo do tempo, à medida que as características regionais de solo, topografia, clima, logística e outros aspectos vão se encaixando com características de mercado das diversas cadeias produtivas (agricultura, criação de animais e silvicultura).


Portanto, os proprietários de terras vão introduzindo em suas fazendas produções rurais que lhe garantam a “melhor” renda em um determinado período, unindo as características da fazenda com as oportunidades do mercado. Assim, em determinado ano optam por lavoura, em outro lavoura com criação animal extensiva e outras combinações. Há os que decidem arrendar parte ou toda a terra para terceiros, seja para agricultura, pecuária ou mesmo plantio florestal. E há também os que vendem as terras para outros fazendeiros ou empresas produtoras.


Com toda essa dinâmica, é natural que ocorra impacto no crescimento de preços de terras em regiões com maior disputa para negócios. Mas e onde se localizam, no Brasil, as áreas com maior pressão por disputa de terras?


Neste artigo vamos sintetizar numa visão estratégica nacional, onde estão localizadas as regiões mais importantes para a produção rural brasileira. O Brasil possui atualmente 5.568 municípios, mais Distrito Federal e Distrito Estadual de Fernando de Noronha. É claro que nem todos são relevantes na produção rural. Além disso, em razão dos aspectos já citados, alguns municípios se destacam em uma ou outra produção rural, enquanto alguns municípios desempenham apenas papel secundário por razões múltiplas (legislação, zoneamento e até mesmo pela distância dos centros urbanos de maior porte).


A Figura 1 mostra a localização dos municípios mais representativos na produção florestal. Atualmente, o plantio comercial de florestas (principalmente Eucalipto e Pinus) ocorre em mais de 3.500 municípios, mas em só 1,2mil deles a área plantada supera os 3mil ha (sinalizados em vermelho nos mapas). Interessante notar que, de modo geral, não houve alteração das regiões mais representativas para produção florestal no Brasil, nos últimos 10 anos. É claro que, individualmente, alguns municípios entraram ou saíram dos holofotes neste recorte temporal, mas o que quero dizer é que, em termos macro, as regiões se mantiveram. No período, tivemos um aumento da área plantada em quase 30% (que atinge cerca de 10milhões ha atualmente), enquanto o número de municípios produtores de florestas cresceu pouco menos de 20% no período.

A mesma análise, agora com as lavouras temporárias (soja, milho, cana-de-açúcar, batata, cebola, hortaliças e outros), pode ser vista na Figura 2. Esta produção rural está presente em quase todos os municípios brasileiros (98,5% deles, para ser mais preciso), embora menos de 1,4mil possuam área de lavoura que some pelo menos 10mil ha (mostrados em verde nas imagens). A área com lavouras temporárias no Brasil soma atualmente quase 80 milhões ha. Nos últimos 10 anos, a produção cresceu mais de 30%, enquanto o número de municípios com esta produção tenha ficado praticamente estável. Mais uma vez se percebe que as regiões produtoras mais significativas não sofreram alteração importante durante os últimos 10 anos.

A regionalização da produção das lavouras permanentes (café, frutas sazonais, látex, erva-mate, castanhas, nozes e etc.) está disponível na Figura 3. A área plantada atual no Brasil é da ordem de 5,5 milhões ha e caiu quase 15% nos últimos 10anos (como paralelo, o número de municípios com registro dessa produção diminuiu quase 4% no mesmo período). Esta produção hoje ocorre em aproximadamente 5mil municípios do país, mas apenas 580 possuem área plantada superior a 2,5mil ha (mostrados em marrom da referida Figura). Aqui também é fácil de perceber a manutenção das regiões produtoras de lavouras permanentes com maior relevância.

O último tipo de produção rural avaliada é a pecuária de corte, que tradicionalmente no país é feita à pasto, já que sistemas intensivos ou semi-intensivos são empregados com mais ênfase nas etapas de reprodução e cria de bezerros e/ou nas bacias leiteiras (ver Figura 4). Com um plantel atual de cerca de 220milhões de cabeças, o rebanho bovino brasileiro só não está presente em cerca de 30 dos mais de 5,5mil municípios do país. Embora bem abrangente, apenas 1,1mil municípios são representativos na criação de bois (destacados em lilás nos mapas), possuindo um rebanho de pelo menos 40mil cabeças. Nos últimos 10 anos, o rebanho não chegou a crescer 5%, ao mesmo tempo que as regiões produtoras mais significativas não sofreram alterações relevantes.

Usando como base o resultado das análises, fica fácil concluir que, exclusivamente no cenário dos últimos 10 anos, não houve mudanças drásticas nas regiões produtivas das principais produções rurais do país (silvicultura, agricultura e pecuária). Cabe notar que, isoladamente, alguns municípios apresentaram perda ou aumento de importância na participação da produção rural dessas mesmas culturas.


Portanto, os resultados comprovam que, embora haja pressão para expansão da área produtiva para o que o público chama de “novas fronteiras” do agronegócio, o país já possui zonas produtivas consolidadas onde o ganho de produtividade é evidente (aumento da produção na mesma área disponível). Além disso, os dados também indicam que algumas culturas produtivas foram substituídas por outras mais rentáveis regionalmente.


Tomando como premissa esses aspectos, fica fácil compreender a forte escalada de preços de terras rurais que vem acontecendo em várias partes do país, notadamente nas regiões com elevada competição para aumento da produção.


Em resumo, como as indústrias de base florestal planejam aumentar suas plantas industriais ou introduzir novas unidades produtoras, o correspondente “aumento da capacidade de suprimento de madeira” alimentará ainda mais o atual ciclo de pressão sobre os preços de terras rurais, nas regiões florestais já existentes.


Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Setembro de 2022.


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