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Indicadores de Mercado para o Produtor de Ativo Florestal

Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Março de 2023.

O monitoramento de indicadores de mercado é rotina fundamental para qualquer tipo de negócio, seja ele do ramo da indústria, comércio ou serviço. Algumas cadeias produtivas possuem um amplo rol de indicadores padronizados, atualizados e de fácil consulta. Já outros setores não contam com a mesma facilidade. Nestes casos, é necessário algum esforço para produzir e agregar um conjunto de indicadores que mostrem a realidade de seus mercados.


No caso específico dos produtores florestais, tem-se um setor que é tipicamente fragmentado. Boa parte das informações publicadas são regionais, abrangem apenas parte da cadeia produtiva (apenas o produto industrial final, por exemplo) ou carecem de atualização temporal (estudos pontuais passados que não tiveram atualizações posteriores com a mesma metodologia e abordagem).


Para preencher estas lacunas, tenho organizado desde o ano passado um conjunto de indicadores estratégicos e táticos para atender aos meus clientes do segmento de produção de madeira. Na coluna deste mês, eu compartilho um resumo do que chamo de Painel de Indicadores Setoriais, preparado especificamente para os produtores de florestas plantadas em todo o país.

Os dados são compilados de diversas fontes de elevada respeitabilidade, abrangendo praticamente todos os Estados onde há relevância na produção nacional de florestas plantadas. Embora haja grandes diferenças entre as realidades dos vários mercados regionais de nosso país, a compreensão do comportamento de uma “média nacional” de cada indicador selecionado permite ao empresário/gestor preparar suas estratégias operacionais, blindando assim seu negócio das adversidades futuras.


Contudo, cabe destacar que todos os valores aqui apresentados foram avaliados em termos nominais, ou seja, não foram descontados os efeitos inflacionários. Meramente para fins comparativos, a inflação oficial (IPCA) registrada no período de análise foi de aproximadamente 30%.


Vamos começar com indicadores de preços comercialização de madeira. As Figuras 1 e 2 mostram, respectivamente, os preços médios nacionais de venda de Eucalipto e Pinus. No caso do Eucalipto, o incremento do preço da lenha se mostra bem superior ao da madeira com fim industrial, principalmente em razão da demanda vinculada ao processamento de carnes (peixes, aves, suínos e carne vermelha) e secagem/armazenagem de grãos pelo agronegócio. No Pinus, o crescimento acumulado de preços foi superior ao Eucalipto, no mesmo período. Em ambos os casos, percebe-se também uma leve tendência de queda nos últimos meses.

Olhando agora os preços de comercialização de produtos do agronegócio, separei algumas commodities relevantes que influenciam diretamente o aumento ou redução da oferta de terras para o plantio florestal. O racional deste entendimento é o seguinte: quanto melhor o mercado das commodities do agronegócio, maior pressão para conversão de terras de reflorestamento para agricultura ou produção animal. O inverso também é verdadeiro.


Algumas produções rurais proporcionam alto volume de produção com pouca quantidade de terras (por isso produção intensiva). Avicultura (tanto para corte como postura) e Suinocultura são tradicionalmente realizadas na modalidade de confinamento, cada vez mais tecnificadas e automatizadas. Em muitas regiões, os criadores operam em regime de integração com a indústria de processamento de alimentos. Para este tipo de produtor, a floresta plantada de pequeno porte é vista como complemento de renda, pois é normal plantar 1 ou 2 hectares de plantio florestal como forma de “poupança para o futuro” num “cantinho de pouco uso da fazenda”.


Embora não faça competição direta com a terra florestal, a diminuição ou manutenção destes micro e pequenos plantios florestais depende diretamente da saúde financeira das suas produções rurais principais.


Por outro lado, há produções rurais que competem diretamente com a floresta plantada na disputa por terras. Neste agrupamento estão praticamente todas as produções de grãos, de gado de corte, boa parte das frutíferas e outras culturas. Este tipo de produção rural compete com a floresta tanto para a compra de terras como pelo arrendamento.


As Figuras 3 e 4 mostram o comportamento dos preços médios nacionais recebidos pelo produtor rural. Um aspecto importante a destacar é a grande flexibilidade dos preços ao longo de todo o horizonte considerado, mostrando assim a alta influência de variáveis de mercado em cada período específico (tais como equilíbrio entre oferta e demanda, efeitos climáticos, logística, períodos de safra e entressafra, imposições legais e outros aspectos).

Partindo agora para os custos atrelados à produção florestal, temos na Figura 5 o comportamento dos gastos com colheita florestal e carregamento da tora no caminhão do transportador (operação dentro da fazenda). Os números mostram um crescimento maior do que o aumento dos preços de venda da madeira, no mesmo período.


O crescimento dos custos com insumos para o plantio está disponível na Figura 6. Importante salientar que os valores se referem ao preço de compra de um “pacote” de insumos, e não à sua aplicação no campo. Como cada cultura tem sua “cartilha” de correção de solos, fertilização e combate a pragas, o custo por hectare pode ter variado de forma diferente em cada situação.


Interessante notar a redução dos preços médios de aquisição de herbicidas no período. Assim, é a única variável aqui apresentada cujo valor atual é inferior ao mensurado no início da série. No tocante ao adubo, o comportamento tem conexão direta com a interrupção das cadeias de frete marítimo internacional durante a crise sanitária mundial e com a guerra Rússia vs Ucrânia.

Nas Figuras 7 e 8, respectivamente, estão resumidos indicadores de custos com construção e reforma de benfeitorias (tipicamente cercas) e instalações nas fazendas (barracões, oficinas e casas, estruturas de pontes e etc.). Todos os itens cresceram muito acima da inflação, no período recortado.

Nas Figuras 9 e 10 estão reunidos dois componentes de custos que afetam diretamente o custo das operações de silvicultura: combustíveis e custo operacional de máquina (aqui representado pele valor da locação da máquina ou equipamento). Assim como nas demais variáveis já citadas, os custos atuais são mais expressivos do que os vistos no início da série, com exceção do valor da gasolina, que cresceu abaixo da inflação acumulada para o mesmo período.

O último conjunto de indicadores selecionados se refere aos valores da terra nua. Na Figura 11 está a evolução dos custos médios nacionais de arrendamento de terras rurais (área efetiva de produção). Já a Figura 12 mostra os preços de aquisição de terras (terra nua, sem benfeitorias). No mesmo recorte temporal, vê-se que os valores de arrendamento de terras para agricultura cresceram (em média) acima do aumento de preços de aquisição de terras.

Como conclusão sintética, os dados apresentados mostram que houve forte crescimento de preços e custos a partir de 2019, quando os efeitos da crise sanitária se estenderam nas diversas cadeias produtivas mundiais. Contudo, os dados mostram que boa parte dos incrementos de valores estão retornando a patamares mais equilibrados, embora outros mostrem tendência de continuidade de elevação. Exatamente, por estes aspectos, se torna importante monitorar constantemente painéis de indicadores setoriais, tais como este resumo aqui apresentado.


Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Março de 2023.


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