Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Maio de 2022.
Há décadas o Brasil se tornou referência no mercado global de celulose e papel. Diversos são os fatores que contribuem para este mérito, mas um dos mais importantes é a sua escala de produção e a sua participação no comércio mundial.
No artigo deste mês o leitor poderá acompanhar um panorama geral das exportações brasileiras de celulose e papel. Para retirar quaisquer influências mercadológicas sazonais ou do mercado mundial atual (entenda-se aqui os anos de 2020 a 2022, período este influenciado pela crise sanitária mundial e a corrente guerra no leste europeu iniciada pela Rússia), foi considerada uma janela temporal mais longa: últimos 10 anos.
Além disso, o retrato aqui apresentado não tem por objetivo ser um estudo intensivo a respeito do mercado internacional atingido pelos produtos brasileiros. O foco das análises é apresentar uma leitura rápida e sintética das exportações nacionais, considerando os produtos já destacados.
Em termos gerais, o volume exportado pelo Brasil, atualmente, representa aproximadamente 75% do que é fabricado internamente no país. Este percentual tem crescido nos últimos anos, em razão dos projetos de expansão industrial ocorridos nos últimos 10 anos. No caso do papel, o país exporta em torno de 20% daquilo que produz anualmente.
Com relação aos modais de transporte, o comércio marítimo é de longe o mais significativo para as exportações brasileiras. Contudo, a Figura 1 mostra que no mercado de Papel, a participação do modal rodoviário movimenta em média 1/4 do volume exportado pelo país. A explicação se deve ao fato de que boa parte dos importadores deste tipo de produtos são países sul-americanos, onde o transporte por rodovia acaba sendo mais vantajoso e operacionalmente lógico.
Como complemento da informação sobre o modal de transporte, a Figura 2 ressalta quais são os recintos de exportação mais importantes para os produtos em análise. No caso da celulose, 3 portos sozinhos (Vitória – ES, Santos – SP e Rio Grande – RS) foram responsáveis por quase 80% do volume exportado pelo Brasil, nos últimos 10 anos. Importante destacar aqui que, para fins estatísticos, o terminal Portocel está vinculado ao Porto de Vitória - ES. Já nas exportações de Papel, apenas 2 portos enviaram mais de 60% do volume ao exterior (Santos – SP e Paranaguá – PR). O Terminal Aduaneiro de Uruguaiana – RS se consolidou como o mais importante para o envio de cargas ao exterior, por via terrestre.
Em termos mercadológicos, temos dimensões bem distintas para os consumidores de celulose e de papel. Na celulose, China é o parceiro comercial mais significativo. Já nos produtos de papel, este mérito cabe à Argentina. Importante destacar o papel do Estados Unidos nesta análise, uma vez que o país se coloca como o 2ª maior parceiro comercial em ambos os produtos (ver Figura 3).
Ademais, outro aspecto digno de nota é à pulverização do mercado mundial de papel: as exportações brasileiras contabilizam um total de 22 classificações aduaneiras distintas. Aliado a isso, o Brasil exportou este tipo de produto para mais de 210 diferentes países nos últimos 10 anos. No caso da celulose, temos apenas 7 diferentes classificações aduaneiras e pouco mais de 100 países como destino das nossas exportações.
As exportações brasileiras são bem concentradas em termos de produtos (Figura 4). Na celulose , mais de 99% do volume exportado é representado por apenas 2 tipos de celulose (dentre as 7 categorias exportadas pelo país no período de análise). No mercado de papel, 3 produtos somam quase 85% do volume exportado (dentre as 22 categorias de papéis padronizadas para o comércio internacional).
Passando agora para uma visão histórica, a Figura 5 resume como se deu a evolução das exportações brasileiras de celulose. À esquerda, se vê o volume exportado cresceu consistentemente no período (muito em razão do crescimento das exportações totais do produto mais significativo – pasta química em termos aduaneiros, ou celulose branca de mercado, como também é chamada), embora o pasta química solúvel tenha perdido força a partir de 2016. Contudo, vê-se um bom rally de preços em dólar, principalmente a partir metade da janela de análise, onde houve importante redução do valor global das exportações, quando compara-se com patamares de 2017 e 2018, por exemplo.
Repetindo a análise com as exportações de papel (ver Figura 6), temos que, setorialmente, o volume enviado ao exterior se manteve equilibrado ao longo do período, mas que os produtos com maior volume de exportação tiveram comportamentos de mercado distintos. Em termos de valor, os dados para o setor não são bons: o valor exportado em 2021 é 13% menor do que o valor de 2011 (em termos nominais em USD).
Por fim, a Figura 7 consolida os dados das Figuras anteriores. Para ambos os produtos, vê-se claramente que o valor unitário do produto exportado caiu nos últimos 10 anos. Na celulose, o preço FOB em USD é hoje 25% mais baixo do que era em 2011 (termos nominais). No papel, a perda de valor foi menos expressiva no mesmo período: 13%.
Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Maio de 2022.
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