Artigo preparado especialmente para a Revista O Papel/ABTCP - Coluna Gestão e Estratégia - Edição de Janeiro de 2021.
O ano de 2020 foi repleto de desafios. As medidas tomadas pelos países ao redor do mundo, como enfrentamento à pandemia do Sars/Covid-19, foram as mais diversas possíveis. Contudo, quase todas as grandes nações adotaram estratégias de isolamento social e paralisação obrigatória das atividades empresariais.
A intensidade destas duas principais medidas públicas variou de país para país. Mesmo no Brasil, em razão de suas dimensões continentais, a duração e intensidade das medidas também variaram até mesmo dentro de um mesmo Estado. E quais os resultados mais evidentes sobre a Indústria de Brasileira de Base Florestal? É sobre isso que este artigo se trata.
Produção Industrial
A Figura 1 mostra a evolução da produção industrial nacional dos principais segmentos produtivos, em se tratando de indústria de base florestal. Neste primeiro recorte, vamos nos debruçar em um horizonte um pouco mais longo: os últimos 5 anos.
Os números mostram que das 6 cadeias produtivas, a produção de celulose é que apresentou o maior crescimento no período (27%). Importante lembrar que aqui são retratadas em conjunto as fábricas de celulose branca e marrom, independentemente do seu processo industrial. Pelo lado negativo, temos a fabricação de Papel, Papelão, Papel Ondulado, Cartolina e Papel Cartão, que chegou ao final do período com o mesmo nível de produção do inicio do ciclo (Dez/2015), e a fabricação de Produtos diversos de Papel, Papelão, Cartolina, Papel-cartão e Papelão Ondulado, cuja produção caiu 4% nos últimos 5 anos.
Olhando agora mais especificamente para um horizonte de menor prazo, a Figura 2 mostra a mesma evolução industrial, porém agora com enfoque mensal dos últimos 2 anos (2019 e 2020).
Conforme os números, a indústria de desdobro de madeira (serrarias, produção de pellets, briquetes, cavaco, postes de madeira, dormentes e etc.) já vinha apresentando retração desde 2019, juntamente com a indústria de Produtos de Madeira (fabricação de chapas de madeira reconstituída, compensado, esquadrias, portas, casas pré-fabricadas, pisos e outros). Contudo, entre Março e Abril de 2020, é nítida a retomada do crescimento dos níveis de produção brasileira, principalmente puxada pelo aquecimento da construção civil (construção de imóveis novos e reforma de usados, bem como atualização e reforma de movelaria).
Já nos segmentos de celulose e papel, se vê claramente uma estagnação dos níveis de produção entre 2018 e 2019 (apesar das oscilações mensais). Na verdade, o segmento com maior estabilidade no referido período foi o de produção de celulose, que demonstrou o menor impacto em termos alteração da produção mesmo no ápice do isolamento social no Brasil.
O segmento de fabricação de Papel e Papelão foi o que mais retraiu níveis de produção em 2020 (pico registrado no mês de junho) dentre os destacados, embora tenha recuperado o fôlego no 2º semestre, voltando aos mesmos patamares do inicio de 2019 e de 2020. Comportamento similar ocorreu na produção de Embalagens de Papel e Papelão e na fabricação de Produtos Diversos com Papel e Papelão, muito em resposta pela retomada gradual do funcionamento do comércio, serviços e da indústria do país, após as semanas iniciais de forte lockdown.
Em resumo, os níveis de produção de toda a indústria de base florestal claramente sofreram reduções no ano de 2020. É claro que cada segmento industrial teve seus impactos particulares e em diferentes proporções e intensidades.
Basta lembrar que o período de lockdown no país se iniciou com mais força na segunda metade de Março/2020. O que se viu foi um período de desabastecimento de várias cadeias produtivas e falta momentânea de itens de higiene básica (tais como o papel higiênico, cujo comportamento a psicologia já explicou em diversos estudos de comportamento de massas em momento de stress) e de alimentação. Gradualmente, mesmo com as severas regras de fechamento das atividades empresariais e de isolamento social, nos meses seguintes as atividades de comércio, serviços e indústria foram gradativamente retomando, demandando assim novos itens de insumo e consumo.
Endividamento Público
O ano de 2020 foi impactante em todo o globo. As principais economias mundiais aumentaram drasticamente os gastos públicos com as chamadas “medidas de contenção da pandemia”. Isso incluiu não só despesas com tratamento de saúde, compra de medicamentos e internações de pacientes, mas também no aumento de gastos com medidas de comando e controle da população e da economia (fiscalizações, aumento do policiamento e etc.).
Além disso, vários países lançaram programas de ajuda fiscal a empresas e/ou cidadãos, como uma tentativa de recompor a renda de sua população e atratividade do mercado interno. O Brasil também optou por esta última alternativa, através do programa de Auxilio Emergencial.
E qual o resultado deste “pacote mundial”? Uma explosão do déficit fiscal em nível mundial. Os Estados Unidos e países da União Europeia, os grandes consumidores mundiais (fora a China) estão no rol de países cujo endividamento público explodiu em 2020. E isso é uma péssima notícia para o Brasil, um país dependente tanto de produtos importados como de mercados compradores para as exportações. Se o parceiro brasileiro está mais endividado, isso é uma péssima noticia em todos os sentidos.
No caso específico do Brasil, a situação fiscal que já era ruim está simplesmente caótica (apesar de que não se verem manchetes sobre o tema... mas com certeza a conta virá “amarga” para o contribuinte). O país iniciou com um déficit nas contas públicas (diferença entre o que o governo federal gasta e o que arrecada) de R$ 350Bilhões. Os números oficiais para 2020 ainda não estão consolidados, mas até a metade do 4º trim/2020, o déficit das contas públicas já superou incríveis R$ 1Trilhão. Com um PIB projetado para 2020 de aproximadamente R$ 6,98Trilhões, estima-se que a dívida bruta nacional atinja quase 86% do PIB, a 2ª maior do mundo entre os países emergentes.
Como o Estado precisará financiar seu endividamento crescente, já está bem avançada em Brasília a revogação de benefícios tributários concedidos no passado. Para o setor de base florestal, o mais significativo será a revogação da Desoneração da Folha de Pagamentos.
Além disso, espera-se um crescimento do apetite por arrecadação de impostos, o que impulsionará as fiscalizações e autuações em empresas optantes pelo Regime Tributário do Lucro Real com estratégias tributárias mais agressivas, revisão de alíquotas de impostos e taxas e consequentemente aumento do Custo Brasil.
Como resultado direto, já é esperado que 2021 e 2022 ocorra maior pressão inflacionária, principalmente sobre preços públicos controlados (energia, combustíveis e outros).
Endividamento das Empresas
Em 2020 tivemos um crescimento mundial de preços (em Dólar) de quase todas as principais commodities, inclusive celulose e madeira. Boa parte do aumento de preços também se refletiu no mercado doméstico: nos últimos 12 meses, o incremento nominal de preços foi de 19% para a indústria de celulose e papel e produtos de papel como um todo. Considerando o conjunto das principais commodities brasileiras, o aumento nominal de preços em 2020 foi de 28%.
Contudo, o ano foi muito ruim para a economia brasileira: a taxa de desemprego cresceu 30%. O nível de atividade econômica apontava para um crescimento do PIB em torno de 1% para 2020, agora projeta uma retração próxima a 4%. Mesmo apresentando queda no ano, o custo médio de crédito no Brasil permanece alto (quase 17% a.a. em termos nominais).
Neste cenário, os balanços trimestrais das principais empresas do setor mostram um crescimento do endividamento em 2020, principalmente naquelas com fontes de financiamento em Dólar (entre Dez 2019 e Dez 2020, o Real de desvalorizou quase 30% em relação do Dólar).
Além disso, outras importantes empresas optaram por postergar as suas estratégias de entrada na Bolsa de Valores via IPO (da sigla em inglês - oferta inicial de ações) ou emissões de títulos de crédito para 2021.
De fato, temos um panorama mais desafiador para a gestão financeira das indústrias, que demandará nos próximos trimestres um intenso exercício de finanças, estratégia e controladoria.
Fusões, Aquisições, Expansões e Adequações de Portfólio
Em razão das dificuldades empresariais e sistêmicas já citadas, o ano de 2020 não foi adequado para o bom desenrolar de fechamentos de negócios para o setor. Apesar disso, 2020 foi intenso em fusões e aquisições para setores de TI, saúde, instituições financeiras/ crédito e de alimentos (em média, mais de 100 transações mensais ocorreram no país).
Para as indústrias do setor de base florestal, os movimentos mais relevantes se deram em duas frentes:
continuidade do processo de crescimento industrial e expansão da produção já em execução (entrada em operação de novas máquinas de fabricação de papel, ou unidades de geração de energia, investimentos em terminais e logística portuária e outros investimentos).
adequação de portfólio visando ganho de competitividade ou fortalecimento de caixa (tal como compra e venda de ativos para suprimento de madeira, paralisação temporária de plantas industriais, mudança de centros operacionais para outras regiões do Brasil e outros movimentos).
De qualquer forma, o represamento de estratégias de investimento e de negócios deverá ser redimensionando pelas indústrias para 2021/2022, uma vez que por natureza as indústrias de base florestal do país trabalham sistematicamente com a estratégia de crescimento dos negócios.
Este é um bom sinal de que o empresariado acredita que o pior da crise já passou e agora é o timing ideal para retomada da prosperidade, mesmo com as adversidades impostas.
Artigo preparado especialmente para a Revista O Papel/ABTCP - Coluna Gestão e Estratégia, Edição de Janeiro/2021
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