Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Junho de 2023.
Todas as nações têm dependência do comércio internacional de mercadorias. No caso do Brasil, praticamente todas as cadeias produtivas estão conectadas de uma forma ou de outra a parceiros internacionais, seja para a importação de bens e produtos, seja para a venda aos clientes internacionais.
Mas e como o Brasil se posiciona no contexto internacional? Estamos nos posicionando adequadamente para ampliar nossas vantagens frente aos players mundiais? Olha, sinto informar, mas os números mostram que não.
É neste sentido que preparei neste artigo um resumo do panorama mundial da movimentação de cargas ao redor do globo. Para facilitar as comparações, selecionei apenas os dados de movimentação de “carga geral”, aquelas que são tradicionalmente transportadas em containers. Em outras palavras, foram excluídos da análise os dados referentes à movimentação de cargas a granel (sólidos ou líquidos), uma vez que demandam navios e terminais portuários específicos para as suas condições (ex.: navios de transporte de minérios, petroleiros, de transporte de grãos e etc., só movimentam este tipo de produto... já um navio porta-container transporta praticamente todos os tipos de produtos).
O ano de 2021 é o período mais recente onde o panorama do transporte marítimo mundial está demonstrado de forma detalhada nos principais portos e nações do globo. Neste recorte temporal, registrou-se uma movimentação de aproximadamente 800 milhões de TEU (do inglês, Twenty-foot Equivalent Unit, ou seja, é o volume correspondente a um container de 20 Pés). Uma primeira constatação relevante se refere à grande concentração da movimentação de cargas nos 50 maiores portos do mundo (ver Figura 1).
A lista destes 50 maiores portos está disponível na Tabela 1. O Brasil possui apenas um porto presente na listagem (Porto de Santos). Os dados mostram que o maior porto brasileiro possui menos de 1/10 da capacidade de movimentação do maior porto do mundo (Shangai – China). Apesar disso, Santos se coloca entre os maiores crescimentos nos últimos anos, bem acima da média mundial.
Este cenário é bastante preocupante para o Brasil, uma vez que nos consolida numa posição de baixa competitividade no comércio internacional (o fator escala é fundamental para a redução dos custos logísticos). Lembre-se: terminais portuários pequenos são tradicionalmente antigos e, portanto, não estão aptos a receber os super navios de carga mais modernos. As novas categorias de navios transportam maior volume de carga, são mais rápidos e, por consequência, proporcionam menor custo operacional. Com o Brasil se concretizando fora das maiores e principais rotas comerciais mundiais, a tendência é de que nossos custos logísticos de comércio internacional fiquem cada vez menos competitivos, pois seguirá fazendo parte de rotas secundárias de carga com navios de menor porte e baixa periodicidade de viagens.
A Figura 2 resume este cenário: Ásia e Europa concentram praticamente 90% da movimentação mundial de cargas dos 50 principais portos mundiais, embora apresentem taxas de crescimento de movimentação menores do que África e as Américas, nos últimos anos.
Segregando um pouco mais os dados mundiais, vemos que o Leste e Sudeste da Ásia agrupam praticamente a metade dos maiores portos do mundo, embora somados representem 70% do volume de cargas movimentadas. Isoladamente, o Norte da África é onde ocorreu o maior aumento de movimentação de cargas, nos anos recentes.
Considerando os dados disponíveis, fica claro que o Brasil tem uma grande tarefa de casa a realizar. O país precisa urgentemente expandir a capacidade de movimentação de cargas, de modo a atender os novos cenários do mercado internacional. Corremos o risco de perder espaço para outros players mais competitivos, mesmo em mercados que dominamos atualmente.
Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Junho de 2023.
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