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Empresário Industrial Brasileiro: mais Otimista ou mais Pessimista?

Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Julho de 2022.


Esta é uma pergunta importante de ser feita, principalmente no momento atual, onde os indicadores mostram que as indústrias no Brasil têm, em geral, enfrentado dificuldades para continuar em funcionamento.


As razões para tal cenário incluem problemas de abastecimento de insumos, custos elevados, complexidade legal e insegurança jurídica, dentre uma lista ampla e conhecida de boa parte dos empresários do setor. Mas é importante ressaltar que este panorama complexo não é novidade, já que as indústrias brasileiras vivenciam estes mesmos problemas há décadas (em diferentes escalas, logicamente, variando de acordo com o setor e mercados específicos).


Mas e como se comporta a percepção do empresário industrial diante destas dificuldades? Ele tende a ser mais conservador ou mais arrojado nas estratégias empresariais? Como é o racional dessa estratégia? A empresa adota ações com visão mais otimista ou ela utiliza um anteparo de ações com viés pessimista?


É dentro desse universo de dúvidas que o presente artigo se descortina: o comportamento da confiança do empresário industrial brasileiro nos últimos anos. A CNI – Confederação Nacional da Indústria desenvolve mensalmente uma pesquisa com empresários dos diversos ramos da indústria brasileira, indagando a eles, dentre outras questões, a seguinte indagação: Empresário Industrial, qual a sua expectativa geral para os próximos 6 meses?

As respostas são apresentadas por meio de uma nota que representa a percepção dele naquele momento da pesquisa, conforme a seguinte escala:

  • Percepção de um futuro OTIMISTA: notas variando entre 51 e 100. Quanto maior a nota, mais otimismo está sendo expresso.

  • Percepção de um futuro PESSIMISTA: notas variando entre 0 e 49. Quanto menor a nota, mais pessimista é a percepção.

  • Percepção NEUTRA para o futuro: nota 50, o que demonstra uma expectativa futura sem viés positivo ou negativo.

Dessa forma, a pesquisa revela, em cada período de medição, um índice de expectativa do futuro deste empresário. A Figura 1 mostra a confiança geral do empresário com o futuro (próximos 6 meses em relação ao momento de realização da pesquisa mensal) para as três grandes categorias industriais utilizadas nas análises macroeconômicas: (a) a indústria como um todo e a sua subdivisão em indústria extrativa (b) e indústria da transformação (c).


Analisando os números, a constatação mais evidente é: os empresários da indústria da transformação e os da extração demonstraram praticamente a mesma percepção ao longo dos últimos 10 anos. Contudo, é possível ver que os empresários da indústria da extração foram ligeiramente mais otimistas em alguns períodos do horizonte de análise. Outra constatação é de que, consolidando os dados para a indústria em geral, a percepção de futuro prevalente é muito similar à percepção dos empresários da indústria da transformação.


Ademais, é também fácil perceber que as opiniões permaneceram majoritariamente no campo das percepções otimistas, uma vez que o pessimismo com o futuro perdurou, no montante, por menos de 4 semestres dos últimos 10 anos. Ficam evidentes os períodos negativos de 2015 e 2016, auge da crise financeira vivenciada pelo país naquele período, e 2020, em razão das imposições de lockdown por parte dos governos estaduais e municipais.


A Figura 2 mostra o resumo desse mesmo histórico de percepções majoritariamente otimistas, agora consolidando os dados em termos anuais. Aqui se percebe que, na média anual, apenas o ano de 2015 obteve nota classificável como pessimista. Assim, em termos globais, pode-se concluir que os empresários industriais brasileiros possuem uma visão predominantemente otimista, mesmo em tempos complexos. Contudo, é importante frisar que este otimismo pode ser considerado como “conservador”, uma vez que, na média geral dos 10 anos, a percepção de confiança do empresário da indústria da transformação foi de 57 pontos, e a do empresário da indústria extrativa foi de 59 pontos (vale lembrar, de um range de otimismo que varia entre 51 e 100). Na média geral nacional, o empresário industrial brasileiro apresentou um otimismo de nota 56,7 para o período dos últimos 10 anos, ou seja, um “otimismo tímido”.


Desdobrando a percepção de otimismo ou pessimismo por setores industriais, temos o mesmo comportamento geral de otimismo e pessimismo para todas as cadeias produtivas ano a ano. O que muda, em cada setor, é a graduação de otimismo ou pessimismo em alguns anos específicos, embora mantenha o mesmo perfil histórico representado na Figura 2.


A Figura 3 resume a perspectiva futura dos empresários industriais brasileiros para o período global dos últimos 10 anos. Como pode ser visto, os empresários dos 13 setores industriais destacados foram, na média, otimistas durante o período. Contudo, é fácil perceber que a percepção global de otimismo foi diferente entre os setores: os empresários do setor Farmoquímico e Farmacêuticos foram os mais otimistas do país, considerando a média geral dos últimos 10 anos. No sentido oposto, os empresários do setor de Madeira foram os menos entusiastas, no mesmo período. O setor de celulose e papel se consolidou numa classificação intermediária, mais próximo das notas inferiores (de menor otimismo).


Contudo, é importante destacar que ao longo dos últimos 10 anos avaliados, é perfeitamente normal que a percepção de otimismo ou pessimismo tenha sido representada por picos mensais, em decorrência de fatores específicos de cada setor ou conjunturais no Brasil e no mundo. A Figura 4 organiza um ranking desses “picos” isolados de otimismo e pessimismo dos 13 setores industriais estudados. Pelo lado positivo, os empresários do setor de Perfumaria, Limpeza e Higiene foram os que relataram a maior percepção mensal de otimismo futuro durante os últimos 10 anos. Essa nota se refere especificamente ao mês de Dezembro de 2018, como decorrência do forte crescimento das vendas setoriais no varejo dos meses anteriores. O setor de Celulose e Papel aparece como a 3ª maior percepção individual de otimismo no ranking, fato este que se refere ao mês de Fevereiro de 2019, motivado pelo bom momento das vendas internacionais do produto brasileiro naquela época.


Já pelo lado negativo, o ranking do pessimismo pertence aos empresários do setor de Móveis, em Abril de 2020 (auge das medidas de lockdown no Brasil e drástica interrupção da produção e das vendas). Os setores de Veículos e Têxtil surgem logo em seguida, todos em razão do mesmo período apontado. O setor de Celulose e Papel mais uma vez aparece em uma posição intermediária no ranking, em razão da nota do empresariado durante o mesmo período já apontado: Abril de 2020.


Considerando assim todos os dados apresentados, conclui-se que o empresariado industrial brasileiro tem sido, de modo geral, inclinado ao otimismo com o futuro. Porém, este otimismo tem sido prioritariamente cauteloso.



Coluna mensal elaborada à pedido da Revista O Papel/ABTCP - Coluna Estratégia e Gestão - Edição de Julho de 2022.


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